Auto-retrato enquanto Hamlet

12,00 

Neste Auto-retrato enquanto Hamlet, D. H. Machado constrói uma obra que nos leva, de maneira quase implacável, ao terreno mais sombrio da introspecção humana. Este livro não é sobre a acção, mas sobre a pausa, sobre o intervalo entre as coisas. A escrita é delicada, cheia de nuances, e há uma coragem em deixar que as palavras flutuem, como se fossem pedaços de diálogos inacabados, perdidos num espaço onde o passado ainda ecoa. O autor desenha um mundo onde as personagens — especialmente o protagonista e Ophelia — parecem mais fantasmas de si mesmos do que figuras de carne e osso. A estrutura fragmentária do livro, com os seus longos silêncios e intervalos entre as palavras, remete-nos ao estilo mais moderno, onde o espaço em branco é tão importante quanto o texto escrito. Tudo se passa no limiar da realidade, numa espécie de sonho acordado, levando o leitor a deleitar-se com a musicalidade da linguagem, com os detalhes, com os gestos mínimos, como quem explora uma casa antiga onde os ecos das conversas se arrastam pelas paredes. O que D. H. Machado faz aqui é um exercício de contenção e intensidade. E é nessa tensão que reside a força de Auto-Retrato Enquanto Hamlet, um texto profundamente contemporâneo e, paradoxalmente, atemporal.

Descrição